26/05/2014

COMO FOI O LANÇAMENTO EM BANANAL (SP)



O lançamento do livro "Pelos caminhos da Estrada Real" em Bananal (SP), no dia 9 de maio passado, foi registrado pelo blog da Câmara de Vereadores da cidade. Confiram AQUI.

23/05/2014

SAUDADES DA SUTILEZA




SAUDADES DA SUTILEZA

A minha infância foi vivida numa época em que os conflitos políticos no Brasil eram muito grandes. Cheguei à adolescência e a repressão ainda ditava o comportamento no nosso país. O que se observava era uma porção de gente sufocada, querendo falar o que pensava, mas sendo impedida pelos olhos astutos do poder instituído. Daí, vieram as comunicações de duplo sentido. Fosse no teatro, na música, nos livros ou no próprio diálogo diário das pessoas, certos temas não podiam ser tratados de forma direta, sob o risco de o autor ser mal interpretado e sofrer consequências nada agradáveis por isto. 

No período imediatamente anterior a essa fase, não havia uma censura política de tamanha magnitude, mas a sociedade era muito mais reprimida do que a atual. O sexo era um tabu muito maior, a tradicional Igreja Católica era um dos pilares das famílias brasileiras e a mulher sujeitava-se, sem grandes esforços, ao homem que escolheu para ser “feliz” para sempre. 

De repente, quando percebo, já estou no ano de 2014, treze anos depois do ano da ficção, que todos imaginávamos através dos olhos de Stanley Kubrick. Um ano tido como símbolo das conquistas e do conforto tecnológico. A realidade é sempre um pouco decepcionante, pois, no imaginário, costumamos nos levar a situações perfeitas. De qualquer maneira, há de se reconhecer que ocorreram muitas mudanças até chegarmos onde estamos. No Brasil, uma dessas mudanças, sem dúvida, é a maior liberdade de expressão. Estamos vivendo um momento em que é permitido falar quase tudo em quase todos os lugares. Se ligo a televisão, às três horas da tarde, num canal aberto, posso ver um filme com cenas tórridas de sexo. A música popular, que se propaga em todos os cantões, parece vir de uma outra civilização, descomprometida e descompromissada, nas quais as perversões são realçadas com um certo requinte de crueldade. No Senado e na Câmara, vemos um número enorme de macacos velhos metendo a mão em cumbuca sem se preocupar com as consequências disso. Nas ruas, é comum vermos evangélicos de igrejas estrategicamente localizadas querendo a nossa conversão a todo custo (Se não nos convertemos, somos discípulos do capeta). Enfim, o que eu quero dizer é que a baixaria deixou de ser a exceção para ser a regra, dentro de um mercantilismo que, não duvido muito, seja capaz de fazer a mãe vender o filho recém-nascido para faturar um trocado. (Se não me falha a memória, isto já foi notícia. Se foi, não tenho do que duvidar). 

Juro para vocês que não tenho nada contra a liberdade de expressão. É um direito conquistado graças à quebra de muitos tabus e regimes. A única coisa que não quero é ser considerado peça de um jogo, onde as pessoas são o tempo todo ou compradoras ou vendedoras, numa guerra mercadológica que se aproveita da liberdade existente para aviltar os nossos sentidos de todas as maneiras possíveis. Tenho saudades, sim. Não da repressão, não da censura, não da maior hipocrisia social de outrora. Tenho saudades da sutileza, que foi se perdendo no tempo com a nova visão de mundo que se instalou nas nossas retinas. 

Se fosse para pedir alguma coisa para o futuro, gostaria que o ser humano começasse a pensar tanto em mecanismos que bloqueassem um pouco a sua ganância quanto em colaboradores que não fossem tão objetivos na realização de suas tarefas. Talvez, assim, possamos começar a inverter esse quadro sem perder as conquistas obtidas tão suadamente, ao longo de todos esses anos.

Felipe Cerquize

22/05/2014

CRÔNICA ESCRITA EM 2004 A PEDIDO DE ZÉ RODRIX

Hoje faz exatos 5 anos do falecimento de Zé Rodrix. Abaixo, está uma "crônica" que escrevi em 2004, cinco antes dele falecer, na qual, a pedido do próprio Zé, anuncio a sua morte. A causa mortis informada na brincadeira coincidiu com a real, mas, infelizmente, não consegui chegar perto da logevidade desejada para esse grande artista, que sempre esteve à frente do seu tempo.

...........................................................

O ÚLTIMO ARTISTA DO SÉCULO XX

Felipe Cerquize

 

Morreu ontem, vítima de um ataque cardíaco fulminante, o cantor e compositor Zé Rodrix. O jornalista Dênis de Bulhões e Carvalho, que o entrevistava na biblioteca de sua casa no momento do colapso, disse que seu comportamento começou a se alterar, quando indagado sobre as lembranças que lhe traziam algumas músicas por ele compostas na segunda metade do século XX.

Filho de um mestre-de-banda, José Rodrigues Trindade estudou no Conservatório Brasileiro de Música e na Escola Nacional de Música, onde aprendeu, além de teoria musical, harmonia e contraponto, piano, acordeão, flauta, saxofone e trompete. No remoto ano de 1966, integrou o conjunto MomentoQuatro e, com esse grupo, no ano seguinte, apresentou-se no III Festival de Música Brasileira da extinta Televisão Record, acompanhando os artistas Marília Medalha e Edu Lobo na interpretação da famosa “Ponteio”. No início da década seguinte, tornou-se integrante do grupo chamado Som Imaginário, procurando, porém, conciliar sempre as suas atividades em equipe com a sua trajetória como compositor. "Casa no Campo", sua mais conhecida canção, ganhou o festival da cidade de Juiz de Fora, em 1971, e foi gravada com grande sucesso pela inesquecível cantora Elis Regina. Atuou também ao lado dos artistas Luís Carlos Sá e Guttemberg Guarabyra, formando o trio que lançou o segmento que na época ficou conhecido como Rock Rural, além de ter participado do grupo pré-punk Joelho de Porco. Na evolução de sua carreira como músico, teve outras ocupações: foi jornalista, professor, cozinheiro e escritor, tendo lançado o livro "Diário de um Construtor do Templo", em 1999, e, em 2009, o grande “best seller” “Mestre Jonas”, título homônimo de uma composição de sua autoria, que antanho também foi de muito sucesso. Entre os anos de 2010 e 2021, morou em Amsterdã, onde criou a banda vanguardista “Forbiden”, que transformava melodias oriundas de Portugal em Rock pesado, para divulgação em países europeus que não tinham o latim como língua de origem. Em 2022, voltou para o Brasil e foi o principal articulador das comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna. Desde 2025 vinha residindo em Matinhos, cidade litorânea do Paraná, que hoje é o grande polo cibernético-cultural da Região Sul do Brasil, graças a todos os empreendimentos por ele administrados nessa região, nos últimos 50 anos.

“Gostaria de ter a causa mortis preferida do meu pai, ou seja, ser assassinado aos 98 anos de idade com um tiro dado por um marido ciumento que me tivesse pego em pleno ato com a mulher amada”, disse em uma entrevista para a Folha de São Paulo, no início deste século. Mas a vida lhe permitiu muito mais. Nascido em 1947, morre aos 144 anos no pleno gozo de suas faculdades mentais, deixando três mulheres, vinte e sete filhos, sessenta netos, cento e vinte e cinco bisnetos e um número incontável de tataranetos.

Atendendo ao pedido do próprio Zé Rodrix, seu corpo será cremado sem que ninguém presencie. As cinzas serão levadas para um iate que se encontra atracado no Porto de Paranaguá, de onde deverá seguir 100 milhas náuticas mar adentro, junto com mais duas embarcações, a fim de que sejam reverenciadas por aqueles que foram textualmente convidados a comparecer, entre os quais estão todas as pessoas que participaram do lançamento de pelo menos um de seus livros, alguns inimigos remanescentes, para que constatem e brindem a sua morte, e todos os parentes e amigos que se predisponham a enfrentar um ritual enfadonho ao sabor do sol, do mar e do vento. O artista sempre expressou o desejo de que no seu ritual de passagem, em hipótese alguma, fossem tocadas composições de sua autoria. Na programação deverão constar somente músicas de uma festa popular que existiu até fins da segunda década deste século, que se chamava Carnaval. As músicas selecionadas são chamadas de marchinha e marcha-rancho e foram muito difundidas entre as décadas intermediárias do século passado.

Segundo informações do advogado da família, está expresso em testamento do artista que, do patrimônio de duzentos milhões de dólares por ele acumulado, nada ficará para aqueles que com ele tenham algum grau de parentesco. A família já disse que entrará com recurso na justiça, tão logo as coisas se normalizem. “Ele era adepto da política do VAI TRABALHAR VAGABUNDO”, disse lacrimejando Ju Rodrix, tataraneta do compositor e filha de Jazz Rodrix.

“Quando morrer, tentarei ser “crooner” da grande orquestra de Jazz do Inferno, que nos meu sonhos identifico como SATANAZZ ALL-STARS”, falava cada vez que despertava com a sensação de que não teria muito tempo de vida, o que lhe era freqüente nos últimos 70 anos.

As cinzas serão jogadas no mar, exatamente às dez horas da manhã deste domingo. O maior de todos os seus desejos era o de ser completamente esquecido no dia seguinte ao de seu enterro. Provavelmente, este é o único de todos os seus pedidos que não será atendido, pois o esquecimento independe da vontade livre das pessoas.

Descanse em paz, Zé. E se por um acaso escutar, no meio do caminho, um som de jazz com arranjos de Ray Connif, pegue o seu astrolábio cibernético e reavalie a rota para que não chegue ao marasmo dos céus.

21/05/2014

O AUTONECROLÓGIO ESCRITO POR ZÉ RODRIX

  Zé Rodrix em foto tirada por Toninho Vaz

Um texto que escrevi, abordando o boato histórico sobre a morte do Paul McCartney, foi motivo para uma brincadeira com o querido amigo Zé Rodrix, dez anos atrás (2004). Quando enviei o texto para uma lista de discussão, o Zé, no jeito contundente e irreverente que lhe era peculiar, pediu para que eu escrevesse uma história noticiando a sua própria morte. Aí, eu fiz. O título era "O último artista do século XX" e no texto começo descrevendo feitos verdadeiros de sua vida, depois avançando no tempo e descrevendo outros tantos que tirei da imaginação. Na minha história, ele morre aos 144 anos de idade, no longínquo 2091, pois essa foi a forma de atender o pedido dele e ao mesmo tempo brincar com coisa tão séria sem passar o sentimento de medo ou a percepção de perigo.

E como o Zé Rodrix era uma pessoa realmente contundente, irreverente e criativa, não satisfeito, ainda me enviou um autonecrológio, abordando os principais assuntos que estavam no meu texto e outros que provavelmente eram desejos verdadeiros seus. Transcrevo a seguir:

..............................................................

"Felipe: Em resposta a seu completíssimo questionário passo-lhe às mãos minhas especificações para passamento e eventual necrologio.

Há alguns anos, gostaria de ter a causa-mortis preferida de meu pai: assassinado aos 98 anos de idade com um tiro dado por um marido ciumento que o tivesse pego em pleno ato… mas hoje não mais. Pode ser de fulminante ataque cardiaco, dentro da minha biblioteca, perto o suficiente da família e dos amigos, mas afastado o bastante para que, alertados pelos cachorros da casa, já me encontrem morto, com um sorriso nos lábios. Pode sepultar-me em pleno mar, sob a forma de cinzas, ja que não poderei ser sepultado in totum no jardim da minha casa. Se conseguirem isso, no entanto, que não cobrem entradas para visitação, à moda do irmão da princesa: deixem que além das pessoas os passarinhos e os animais da casa se refestelem no lugar, renovando diariamente o eterno ciclo da natureza. Ao enterro devem, através de convite formal, comparecer todos que foram aos meus lançamentos de livro: nada mais parecido com um velório do que isso. Peço parcimônia nos eflúvios emocionais: já as risadas devem ser francas e sem limite. Creio inclusive que prepararei com antecedência uma fita de piadas gravadas para animar o velório e manter o pessoal na boa. Como dizia o Bozo, “sempre rir, sempre rir….” Lá, só deixarei a mim mesmo: mesmo os inimigos que comparecerem para ter certeza de que estou realmente morto podem voltar para casa em paz. Não pretendo puxar a perna de ninguém à noite e nem assombra-los depois de morto. Já os amigos podem contar comigo: havendo vida após a morte, volto para avisar, da maneira mais prática e menos assustadora que me for possível. A cremação deve ser feita depois que todos forem embora cuidar de seus próprios afazeres: enfrentar as chamas do forno terrestre já será um grande intróito para a vida eterna. Se conseguir, tentarei ser crooner da grande Orquestra de Jazz do Inferno, vulgarmente chamada de SATANAZZ ALL-STARS: como já vou chegar la tenente ou capitão, dada a minha imensa taxa de maldades realizadas sobre a Terra, creio que não será difícil. Meu castigo certamente será cantar MPBdQ por toda a eternidade, mas mesmo com isso ainda se pode encontrar algum prazer, assim na terra como no inferno….é o que veremos a seguir. No enterro podem tocar de tudo, menos as musicas que eu tenha feito. Minha morte servirá certamente para que se livrem não apenas de mim mas também de minhas obras. Os herdeiros também não merecem ouvi-las, sabendo que nada herdarão de minha lavra, porque, sendo eu adepto da politica do VAI TRABALHAR, VAGABUNDO, como meu pai fez comigo, já tomei providências para que essas musicas não lhes rendam nem um tostão furado. Sendo um velório moderno, recomendo musicas de carnaval antigo, as indiscutíveis, claro, com algumas discretas serpentinas e confetes jogadas sobre o caixão, fechado, naturalmente. Morrer num sábado à tarde, ser enterrado num domingo antes do almoço, e estar completamente esquecido na manhã de segunda, sem atrapalhar a vida profissional de ninguém: eis a perfeição que desejo na minha morte.

Muito grato.

beijos

Z"
.........................................................................

Sinto pelo ser humano, que conheci e com quem tive a oportunidade de me relacionar por cerca de cinco anos (2004 a 2009). Sinto pela falta que ele faz à cultura do nosso país. Infelizmente, acabamos contrariando um de seus desejos, pois, até hoje, continuamos com fortes lembranças de seu trabalho artístico e de sua personalidade marcante. Em 22 de maio de 2014, completam-se cinco anos sem a presença de Zé Rodrix. 

10/05/2014

COMO FOI O LANÇAMENTO DO LIVRO PCER EM BANANAL (SP)

Quero agradecer a todos que compareceram ao lançamento do livro "Pelos caminhos da Estrada Real" em em Bananal (SP).

Ao Erich Aguiar, agradeço por fomentar o evento. À Lúcia Nader, meu agradecimento especial pela organização, que ficou ótima. À prefeita Mirian Bruno (Bananal) e ao prefeito Luiz Carlos (Itatiaia) meus agradecimentos por se deslocarem de suas funções para prestigiar o trabalho. Enfim, aos vereadores, aos cidadãos bananalenses e demais amigos presentes, o meu muito obrigado pelo comparecimento.

Aproveito para convidá-los a participar do grupo "Pelos caminhos da Estrada Real", no Facebook, onde poderemos continuar trocando ideias sobre as maravilhas da Estrada Real. Já somos mais de 12000 membros.

Abraços!