14/10/2010

RESPOSTA DE IVAN LINS

Ivan Lins
Felipe,

Obrigado pela força.Valeu, companheiro.

Mas fica dificil ser carioca, ter vivido 60 dos 65 anos que tenho nessa cidade, assistir a degradação lenta e gradual dela, nas mãos desses prefeitinhos e governadorecos medíocres e safados, assistir, BERRANDO o tempo todo, nos palcos, nas entrevistas, contra tudo isso, nesses ultimos 35 anos, principalmente, e perceber que a cidade, a mídia, me foi surda, pois não faço parte dos que "podem" falar e berrar, e serem ouvidos, chegarem à opinião publica. Tentei salvar, tentando fazer a minha parte, esse país, minha cidade desses "interesseiros" (na política, na administração publica, existem 10% de interessados e 90% de interesseiros), através de minha profissão, cantei essa cidade pelo mundo afora, convidando as pessoas a nos visitarem, mostrando a nossa arte, nossa alegria,nossa beleza (meu pacto de vida é com a beleza, em todos os sentidos), e o que a cidade meu deu de mais expressivo, no final das contas (alem de alguns teatros lotados, que me são inesquecíveis, pois, por serem poucos, me lembro de todos): minha entrada para essa brutal estatística, anteontem de manhã.

Vários de minha familia já passaram por isso, nas estradas, nas ruas, e eu só esperando, com o coração confuso. E logo eu que, por incrivel que pareça, não tenho raiva daqueles caras agressivos e armados até os dentes. A minha raiva bate em Brasilia, bate no Congresso, nos palácios de governo, nas assembleias legislativas, nas prefeituras, nos impérios politico-partidários desse pais, no ministério público, nas organizações poderosas e multimilionárias desse país, com seus números espetaculares, que deixam o mundo assombrado. Esse contingente imperial e medíocre, sustentado por milhões e milhões de ignorantes, com seus pobres e coitados votos de uma cocada e mariola, sem educação que preste, sem saúde que preste, sem cultura quase nenhuma, e cidadania de fachada. A ignorância é a mãe de todos os males, porque ela é pragmática. Fim.

Portanto, só gostaria que você entendesse que já estou cansado de tanto esforço. Preciso de um tempo pra mim, pra minha familia querida e tão linda e amorosa. E não quero que seja entre balas perdidas, medo, medo, medo, suspeitas, olho nas costas, outro no bolso, outro 2 metros adiante, outro 5 metros atrás, ter a grana separada pro assalto, esconder os valores, trocar carro por carroça...isso, na minha cidade onde nasci e me criei? Isso agora é que é vida?

Querido Felipe, desculpe o desabafo. Pode ate ser que tenhas razão...que isso passe, mas nunca mais sera a mesma coisa.

Obrigado pela paciência.

Que nosso anjo da guarda continue a nos proteger, pois a vida vale a pena.

Grande abraço,

Ivan

PS: se fosse possível, gostaria que essa resposta que te dei, Felipe, pudesse chegar às mãos do Marcelo Freixo, em quem voto há muito tempo e junto com o Chico Alencar, uma ilha dentro desse panorama escroto que é o nosso mundo parlamentar e administrativo. Obrigado e boa poesia (aliás, isso eu nao preciso te pedir...ela sempre virá). Abs, Ivan.

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Em 13 de outubro de 2010 21:50, Felipe Cerquize cerquize@gmail.com escreveu:
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Alô, Ivan.
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Espero que esteja tudo bem contigo e com a Valéria. Nos primeiros dias o trauma é forte, mas com o tempo vai melhorando e tende a sumir.
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Não se mude do Rio por causa desse episódio. O problema não é exclusivo da nossa cidade, pode ter certeza disso.
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Um grande abraço e muita paz.
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Felipe Cerquize
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