SOLAR DA FAMÍLIA DE TANCREDO NEVES EM SÃO JOÃO DEL REI
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Quando tracei o meu roteiro pela Estrada Real, minha opção foi a de não me hospedar em São João del Rei. Depois que a visitei, concluí que fiz uma boa escolha. Claro que, quando a gente faz a estada num determinado lugar, fica mais gabaritado para julgá-lo, mas o fato é que, lá, não percebi o glamour das outras cidades que estavam no meu roteiro.
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Depois de uma viagem de maria-fumaça, de Tiradentes a São João del Rei, que levou cerca de meia hora, saltei na estação e entrei numa van fretada, a fim de conhecer os principais pontos turísticos. Quando ainda estava no trem, percebi muito lixo às margens da linha férrea, na chegada da cidade. O cenário não era diferente ao caminhar por suas ruas, contrastando com Tiradentes, uma cidade extremamente limpa, onde imagino que a coleta de lixo deva ser feita de madrugada, pois não vi um lixeiro sequer, de dia e à noite.
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O guia turístico nos conduziu a uma primeira igreja, onde sempre se ouvem aquelas mesmas histórias sobre a quantidade de ouro incrustada nas pinturas e os detalhes da arte barroca. Na terceira igreja que ele nos levou, me recusei a entrar, já sem paciência, e fiquei dentro da van, olhando o chuvisco que caía na rua e no vidro do carro. Depois de quase meia hora, achei estranho os passageiros não terem retornado, pois o normal eram, no máximo, quinze minutos para uma visita desse tipo. Saí do carro e perguntei ao motorista por que todos estavam demorando tanto. Foi aí que fiquei sabendo que aquela era a igreja onde havia o cemitério em que Tancredo e Risoleta Neves estavam enterrados. Depois de uns dois palavrões, pela falta de comunicação, fui até a igreja e visitei o cemitério, tudo muito rápido, devido ao tempo perdido. Em seguida, fomos visitar uma fábrica de taças, vasos e jarras em estanho, bastante artesanal, porém com um acabamento das peças fabricadas tão bom, que a gente não consegue imaginar o quão rudimentar e insalubre para os trabalhadores é o lugar de onde elas saíram. Finalmente, depois de mais algumas voltas pelas ruas históricas da cidade, fomos parar em frente ao solar da família de Tancredo Neves (ver foto), muito bem cuidado, provavelmente com herdeiros da família ainda ocupando o imóvel. Nesses passeios, sempre ficamos sabendo algo que, por alguma vacilada ou falta de atenção, não havíamos aprendido, até então. Nesse, foi o caso da diferença entre um sobrado (casa de dois andares, em que o primeiro é comercial e o segundo residencial) e solar (casa de dois andares, residencial, com portas e janelas simples, embaixo, e janelas com sacada, na parte de cima, tendo um certo requinte no acabamento).
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Tudo isso, que descrevi nos parágrafos acima, ocupou a tarde que tive para conhecer São João del Rei. Na volta, quase perdemos o trem para Tiradentes, pois o motorista da van, com toda sua calma interiorana, dizia que não precisávamos nos preocupar com o tempo, pois chegaria à estação em cinco minutos, visto que o trânsito na cidade não engarrafava. Acabou de falar aquilo e nos deparamos com um acidente, entre um caminhão e um carro, que deixou todas as ruas de acesso à estação de trem congestionadas. Mas como todo mundo se conhece e tudo se sabe nas cidadezinhas do interior, o trem esperou seus passageiros, saindo com um atraso de quase meia hora. Faltaram a poesia e os poetas, em São João del Rei.
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A POESIA DE SÃO JOÃO DEL REI
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Está no lixo que cobre a cidade
Nos bêbados caídos pelas praças
Nos loucos que parecem ser normais
Naqueles que fabricam suas taças
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Nos cemitérios com gente importante
Dentro da igreja pintada de ouro
Vejo suas jóias como um viajante
Mas não consigo enxergar seu tesouro
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Vai na fumaça e no apito do trem
Na calmaria dos seus descendentes
O trem que parte é o mesmo que vem
Trazendo nele o sol de Tiradentes
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Não me interessa ter-te desprezada
Só digo as coisas que eu vivi contigo
Quem sabe, um dia, volte pela estrada
E me ofereça pra ser teu amigo?
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Felipe Cerquize
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Depois de uma viagem de maria-fumaça, de Tiradentes a São João del Rei, que levou cerca de meia hora, saltei na estação e entrei numa van fretada, a fim de conhecer os principais pontos turísticos. Quando ainda estava no trem, percebi muito lixo às margens da linha férrea, na chegada da cidade. O cenário não era diferente ao caminhar por suas ruas, contrastando com Tiradentes, uma cidade extremamente limpa, onde imagino que a coleta de lixo deva ser feita de madrugada, pois não vi um lixeiro sequer, de dia e à noite.
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O guia turístico nos conduziu a uma primeira igreja, onde sempre se ouvem aquelas mesmas histórias sobre a quantidade de ouro incrustada nas pinturas e os detalhes da arte barroca. Na terceira igreja que ele nos levou, me recusei a entrar, já sem paciência, e fiquei dentro da van, olhando o chuvisco que caía na rua e no vidro do carro. Depois de quase meia hora, achei estranho os passageiros não terem retornado, pois o normal eram, no máximo, quinze minutos para uma visita desse tipo. Saí do carro e perguntei ao motorista por que todos estavam demorando tanto. Foi aí que fiquei sabendo que aquela era a igreja onde havia o cemitério em que Tancredo e Risoleta Neves estavam enterrados. Depois de uns dois palavrões, pela falta de comunicação, fui até a igreja e visitei o cemitério, tudo muito rápido, devido ao tempo perdido. Em seguida, fomos visitar uma fábrica de taças, vasos e jarras em estanho, bastante artesanal, porém com um acabamento das peças fabricadas tão bom, que a gente não consegue imaginar o quão rudimentar e insalubre para os trabalhadores é o lugar de onde elas saíram. Finalmente, depois de mais algumas voltas pelas ruas históricas da cidade, fomos parar em frente ao solar da família de Tancredo Neves (ver foto), muito bem cuidado, provavelmente com herdeiros da família ainda ocupando o imóvel. Nesses passeios, sempre ficamos sabendo algo que, por alguma vacilada ou falta de atenção, não havíamos aprendido, até então. Nesse, foi o caso da diferença entre um sobrado (casa de dois andares, em que o primeiro é comercial e o segundo residencial) e solar (casa de dois andares, residencial, com portas e janelas simples, embaixo, e janelas com sacada, na parte de cima, tendo um certo requinte no acabamento).
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Tudo isso, que descrevi nos parágrafos acima, ocupou a tarde que tive para conhecer São João del Rei. Na volta, quase perdemos o trem para Tiradentes, pois o motorista da van, com toda sua calma interiorana, dizia que não precisávamos nos preocupar com o tempo, pois chegaria à estação em cinco minutos, visto que o trânsito na cidade não engarrafava. Acabou de falar aquilo e nos deparamos com um acidente, entre um caminhão e um carro, que deixou todas as ruas de acesso à estação de trem congestionadas. Mas como todo mundo se conhece e tudo se sabe nas cidadezinhas do interior, o trem esperou seus passageiros, saindo com um atraso de quase meia hora. Faltaram a poesia e os poetas, em São João del Rei.
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A POESIA DE SÃO JOÃO DEL REI
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Está no lixo que cobre a cidade
Nos bêbados caídos pelas praças
Nos loucos que parecem ser normais
Naqueles que fabricam suas taças
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Nos cemitérios com gente importante
Dentro da igreja pintada de ouro
Vejo suas jóias como um viajante
Mas não consigo enxergar seu tesouro
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Vai na fumaça e no apito do trem
Na calmaria dos seus descendentes
O trem que parte é o mesmo que vem
Trazendo nele o sol de Tiradentes
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Não me interessa ter-te desprezada
Só digo as coisas que eu vivi contigo
Quem sabe, um dia, volte pela estrada
E me ofereça pra ser teu amigo?
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Felipe Cerquize
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