09/05/2009

ESTRADA REAL IX

BECO DO MOTA (FUNDO, CATEDRAL METROPOLITANA DE DIAMANTINA)
DIAMANTINA (MG)
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Garimpo, que fica próxima ao centro histórico da cidade, no caminho para Curralinho. Uma pousada com boas acomodações e com um restaurante administrado por um chef renomado internacionalmente, conhecido pelo apelido bizarro de Vandeca (dizem que, no início da carreira, ele ficava cantando canções de Wanderléa, da Jovem Guarda, enquanto preparava seus pratos. Daí, o apelido). Posso afirmar, sem dúvida alguma, que a mais saborosa das iguarias que comi, durante minha viagem pela Estrada Real, foi um prato muito famoso em Diamantina, criado por Vandeca, chamado de Bambá do Garimpo. Para quem gosta de culinária, eis a receita:
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BAMBÁ DO GARIMPO
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Ingredientes:
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1 maço de couves1 kg de costelinha de porco150 g de feijão carioquinha1 colher de gordura de porco1 cebola roxacheiro verde a gosto4 dentes de alho1 colher de sobremesa do corante1 pimentão, sal a gosto.Preparo:
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Cozinhe o feijão com o corante, depois de cozido bata-o no liquidificador. Após temperar a costelinha, coloque para fritar em óleo quente e, em seguida, cozinhe por 25 minutos. Refogue o feijão na gordura de porco, com sal e alho, junte a cebola, o pimentão e o cheiro verde. Acrescente a costelinha cozida e deixe ferver. Corte a couve bem fininha, misture ao feijão e ferva por mais dois minutos. Servir acompanhado de angu e arroz.
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Rendimento: 4 porções
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Fotos:
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777335 Em frente á Pousada do Garimpo
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32778177 Saboreando o Bambá do Garimpo
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Na manhã de sábado, fui para o centro histórico de Diamantina, a fim de começar a minha peregrinação em busca de fatos e lugares interessantes. A cidade tem ladeiras piores do que as de Ouro Preto. Subi e desci a pé várias delas para conhecer o que me era possível. Na confluência de algumas dessas ruas íngremes, na parte baixa da cidade, existe uma praça, onde está a estátua de Juscelino Kubitschek. Conheci o Museu do Diamante, o Passadiço da Glória, a Casa de Xica da Silva, a antiga Casa de Muxarabiê, o Mercado Velho, alguns chafarizes coloniais ainda em funcionamento, a Capela da Santa Casa da Caridade e várias igrejas, inclusive a Catedral Metropolitana de Diamantina, que foi parte do cenário para um desentendimento entre a Igreja Católica e prostitutas que ficavam no Beco do Mota, situado próximo à catedral. Nesse ponto, pus toda a minha atenção numa história, que hoje é mais da música popular brasileira do que da cidade de Diamantina.
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Fotos:
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777391 Passadiço da Glória
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777012 Interior da casa que foi de Xica da Silva
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777772 Casa de Muxarabiê
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32779347 Mercado Velho
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32778689 Chafariz
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32776954 Capela da Santa Casa da Caridade
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32778130 Catedral Metropolitana
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Antes de ir até a catedral e seus arredores, estive na casa onde morou Juscelino Kubitschek, local em que hoje funciona um museu em sua homenagem. Conversando com um dos empregados da fundação que administra o museu, perguntei onde poderia ver a foto, tirada no Beco do Mota, em que aparece Lô Borges, Fernando Brant, Márcio Borges, Milton Nascimento e Juscelino. Ele disse que estava arquivada e não me mostrou. Perguntei, então, como fazer para chegar ao beco e ele me orientou. Pressuponho que todos conheçam a parceria de Milton e Brant, onde eles falam sobre o Beco do Mota e mencionam os rituais noturnos dessa viela, por conta da prostituição.O empregado do museu me disse o caminho das pedras e só aí, então, fui para esse ponto da cidade.Depois de conhecer o interior da catedral, segui para o beco, que fica em frente à igreja, do outro da rua. Chegando lá, perguntei para uma senhora, que estava numa loja de tecidos, se ali era o Beco do Mota e ela foi logo dizendo que era ali mesmo, mas que agora se chamava Beco do Alecrim, numa tentativa um tanto velada de desvincular o local do rótulo e dos rituais de outrora. O Beco do Mota (ou do Alecrim, como queiram) começa nos fundos da Casa de Muxarabiê, que mencionei no parágrafo anterior (Muxarabiê é uma arquitetura de origem mourisca, herdada pelos portugueses, em que as janelas são protegidas de cima a baixo por gelosias, para resguardar da luz, do calor e do devassamento).. É próximo à porta de trás dessa casa que está afixada uma placa, com a letra e a partitura da parceria de Milton Nascimento e Fernando Brant. O beco está muito bem conservado e repleto de casas comerciais.
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Fotos:
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777407 Frente da casa de Juscelino Kubitschek
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777865 Placa na parede da frente da casa de Juscelino
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777906 Fundos da casa de Juscelino
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777602 Quarto que foi de Juscelino Kubitschek
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=34378923 Foto histórica: Lô, Brant, Márcio, Milton e Juscelino
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32776902 Placa com a parceria de Milton e Brant
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32776866 Fundos da Casa de Muxarabiê, onde está a placa
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777753 Beco do Mota - Subida
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777694 Beco do Mota – Catedral ao fundo
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Eis a letra de “Beco do Mota”, do LP “Milton Nascimento”, lançado em 1969. Para ouvir a gravação original do disco, clique no link
http://www.mp3tube.net/musics/Beco-do-Mota-Milton-Nascimento-e-Fernando-Brant/279869/
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BECO DO MOTA
Música: Milton Nascimento
Letra: Fernando Brant
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Clareira na noite,
na noite
Procissão deserta, deserta
Nas portas da arquidiocese desse meu país
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Profissão deserta, deserta
Homens e mulheres na noite
Homens e mulheres na noite desse meu país
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Nessa praça não me esqueço
E onde era o novo fez-se o velho
Colonial vazio
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Nessas tardes não me esqueço
E onde era o vivo fez-se o morto
Aviso pedra fria
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Acabaram com o beco
Mas ninguém lá vai morar
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Cheio de lembranças vem o povo
Do fundo escuro o beco
Nessa clara praça se dissolver
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Pedra, padre, ponte, muro
E um som cortando a noite escura
Colonial vazia
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Pelas sombras da cidade
Hino de estranha romaria
Lamento água viva
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Acabaram com o beco
Mais ninguém lá vai morar
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Cheio de lembranças vem o povo
Do fundo escuro o beco
Nessa clara praça se dissolver
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Procissão deserta, deserta
Homens e mulheres na noite
Homens e mulheres na noite desse meu país
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Na porta do beco estamos
Procissão deserta, deserta
Nas portas da arquidiocese desse meu país
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Diamantina é o Beco do Mota
Minas é o Beco do Mota
Brasil é o Beco do Mota
Viva meu país!
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Ainda no sábado, à noite, fique sabendo de uma folia de reis, anunciada para acontecer em Curralinho, e fui até lá para ver. Curralinho é um lugarejo com menos de 5 mil habitantes, que fica a 8 Km de Diamantina. É perto, mas quando se trata de estrada de chão esburacada, 10 minutos viram uma hora e a viagem parece durar uma eternidade. Os festejos eram simples, mas representando bem a originalidade das festas religiosas do interior de Minas Gerais, com procissão, missa, levantamento do cruzeiro e muitos fogos de artifício.
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Fotos:
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141183&imageID=32774451 Folia de reis em Curralinho 1
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141183&imageID=32774584 Folia de reis em Curralinho 2
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141183&imageID=32774726 Folia de reis em Curralinho 3
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141183&imageID=32774437 Folia de reis em Curralinho 4
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O comércio de Diamantina sofre uma série de restrições no final de semana. No sábado, as lojas só podem ficar abertas até as 13:00 h. Já no domingo, o comércio não funciona, mas uma feira de artesanatos é autorizada nas cercanias da Catedral Metropolitana. Para estimular a visita a essa feirinha, os artesãos criaram um evento chamado Café do Beco, que acontece no Beco da Tecla com reflexos até a Rua da Quitanda. O evento ocorre todo domingo, tendo cafezinho e chá de cortesia, além de venda de caldos, salgados, sanduíches, doces e o famoso bolo de arroz. Conta com brincadeiras, música e apresentações culturais e foi nesse clima que presenciei um grupo de rua cantando várias canções, entre elas “Calix Bento”, que faz parte do folclore mineiro e foi sucesso na voz de Milton Nascimento, a partir de uma adaptação de Tavinho Moura. Gravei essa apresentação e a disponibilizei no You Tube. Link:
http://www.youtube.com/watch?v=V_jkhLo7srw&feature=channel_page . A gravação de Milton Nascimento foi feita para o disco Geraes, lançado em 1976. Para ouvi-la, clique no link http://www.mp3tube.net/musics/Calix-Bento-Folclore-de-Minas-Gerais-com-Milton-Nascimento/279909/
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Fotos:
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777974 Café no Beco 1
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32778026 Café no Beco 2
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32778439 Café no Beco 3
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E assim foi a minha passagem por Diamantina. No início da tarde de domingo, ainda conheci o mirante da cidade, que fica num morro a cerca de 5 Km do centro e é caminho para a Pousada Real, que aproveitei para também visitar. Talvez me hospedasse nela, se a tivesse conhecido no dia da chegada, pois fica num local muito agradável e permite um visual da natureza que é insuperável naquelas bandas. Às 15:00 h, encerrei a conta na Pousada do Garimpo e segui viagem para Cordisburgo, terra de João Guimarães Rosa.
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Fotos:
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777426 Mirante de Diamantina
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32779107 Cruzeiro no mirante de Diamantina
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777236 Pousada Real – Diamantina 1
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http://viewmorepics.myspace.com/index.cfm?fuseaction=viewImage&friendID=139730924&albumID=2141204&imageID=32777414 Pousada Real – Diamantina 2
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Para finalizar, a minha contribuição poética para Diamantina, numa resposta alusiva à canção de Milton e Fernando Brant, como tentativa de rescaldar o que ficou, depois de tanto tempo:
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BECO DO ALECRIM
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Casas bonitas,
pintadas de branco
que escondem o mofo,
seguram o tranco.
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Ninguém mais se lembra:
procissão deserta,
homens e mulheres,
vida libertina
nas noites de Diamantina.
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Mas eu não esqueço
e vou pela trilha
que hoje fervilha
com gente de longe
que não sabe nada
sobre a badalada
rua meretrícia.
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Refaço os horrores
que levam ao pudor
e raspo as cores,
mostrando o mofo
que existe em todos,
que perdura em mim
no Beco do Alecrim.
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Felipe Cerquize
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